terça-feira, 1 de junho de 2010

QUANDO O BARCO AFUNDA

Seja um casamento, uma profissão ou emprego, seja uma amizade, a morte de um ente que amamos, seja lá o que for... quando percebemos que algo ao qual nos dedicamos (ou dedicamos tempo da nossa existência) está à deriva, o mais comum é que nos desesperemos. E de fato é um desespero só!! É doloroso ver um barco afundar... aqui não digo no sentido figurado não! Alguém já viu um barco afundando ao vivo (ou mesmo em um filme)?! Imaginem-se vendo um barco afundando! Dá uma sensação ruim!!! Tipo, aquele troço não foi feito para estar no fundo e sim na superfície!! Ele foi construído com "amor e carinho" para... sei lá... tantas coisas, NA SUPERFÍCIE, certo? MAS MUITOS BARCOS AFUNDAM MESMO ASSIM! Da mesma forma, pessoas que amamos se vão, carreiras vão por água abaixo, amizades... aí vem o LUTO! Precisamos viver o doloroso luto, não tem jeito. As lágrimas escorrem junto com parte da nossa alma... é a sensação que dá e por mais triste e dramático que seja... temos de vivenciar!! We have to let it go! Acho essa expressão do inglês muito bonita! Temos de deixar ir, deixar partir, largar nossa mão escorregadia que teima em manter o que inevitavelmente tem de ir!! E, ainda que "nos arrastando" de início, temos que nos mover adiante! Seguir em frente! Encontrar nosso rumo, um novo rumo para preencher a falta total de horizonte que se nos impõe bem diante de nossos olhos lacrimejantes, de nosso coração partido... esse rumo a princípio não vem, vemos apenas breu, o vazio, e, junto com ele, a dor mais intensa possível. MAS... um dia, um novo horizonte vai bem aos poucos sendo colorido diante de nós. E o legal é que ele vem cheio de novas possibilidades! Dependendo, claro, da situação, poderemos até fazer algumas coisas novas que antes sequer cogitávamos. E a vida começa a ressurgir em uma nova dimensão, a dimensão além da dor, além do luto, que de forma latente, continuará em nós, sem dúvida, fará parte de uma das rugas que marcarão a vida vivida em nosso olhar amadurecido.

Certa vez ouvi algo que ficou marcado em minha memória embora eu não tivesse na época entendido toda a magnitude da frase. Era algo mais ou menos assim: "Cuidado com aqueles que sofreram, porque eles SABEM que PODEM sobreviver!"... o fato é que SABER que se pode SOBREVIVER é algo magnífico, revigorante! Apesar do sabor amargo da experiência, cria-se em nós uma espécie de crosta que nos torna mais resistentes, mais fortes, mais sábios!
Então... o barco está afundando... a dor é intensa, parece uma corrosão interna! Não finjo que não dói! Deixo as lágrimas caírem com parte da minha alma! Vivencio essa dor... simplesmente porque não há outro caminho além desse! Minhas mãos estão doloridas, cansadas de tanto segurar com toda força que tenho em mim aquilo que me dói ver sumir no horizonte! Mas vai sumir de qualquer jeito! Vai doer de qualquer jeito! Não posso mais... as mãos suam, escorregam... o horizonte vazio, o breu já aponta lá adiante! A dor é dilacerante! O chão se esvai sob meus pés! O desespero vem e insiste em ficar! O último fio de esperança e força se esgota. Ver a proa do barco apontando pro céu e seguindo seu curso mar abaixo faz estremecer de pavor, pois a dor só faz aumentar. Por fim... não resta mais nada além de soltar e deixar partir!

3 comentários:

  1. Não quero deixar partir.
    É o que tenho dito pra mim mesma desde que deixei de trabalhar fora. É um luto que não passa. Como se eu tivesse Alzeheimer... toda vez que lembro, torno ao mesmo luto. Dolorido demais ter idéias pipocando em minha cabeça e não ter como colocá-las em prática.... então... volto a planejar o jantar.
    Encostei parte dos meus sonhos num canto do meu coração e deixo ele alí parado pra quando chegar a minha vez, pra quando eu puder ver este tal horizonte de que fala. Não vejo somente breu, também não é assim.
    Tenho uma nova carreira, a que minha avó sempre sonhou.... talvez até minha mãe tenha sonhado com esta carreira ....depois de um certo tempo de jornada dupla! Mesmo assim eu não quero deixar ir embora, esse embaraço na mente diante de um bom período composto por subordinação, essa loucura que me dá diante de um erro de concordancia (Deus... que não haja nenhum neste texto!) e sempre, claro, a vontade que se tem de morrer quando alguém solta um "nós vai..."
    Eu nunca tive problemas em deixar ir, até descobrir que uma parte comprometedora do que eu sou teria que ir também. Já é ruim demais perder algo que está fora de nós... imagine nós mesmos....

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  2. amiga, continue escrevendo!! vou indicar seu blog para meus alunos!!
    bjão

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